O BONECO
Quis esculpir um amigo com alma de boneco
Coloquei-o por trás do espelho do meu quarto
Ele esperneou e quis ter vida própria, o esperto
Mas não deixei, pois eu que fiz seu parto
Moldei-lhe a minha imagem e imaginação
Choveram vozes e ideias e ele mudou de partido
Elegeu-se dono e deus do seu coração
Disse que veio para espada e pra ter inimigos
Boneco rebelde expulsei-o do seu paraíso
Foi conseguir sustento com o suor do rosto
Fez roqueiro, empresário, ateu de improviso
Mas não iria ser meu amigo a contragosto
Discutimos dez anos nossa falta de amizade
E finalmente descobrimos que amizade é comércio de verdade