O BONECO

Quis esculpir um amigo com alma de boneco

Coloquei-o por trás do espelho do meu quarto

Ele esperneou e quis ter vida própria, o esperto

Mas não deixei, pois eu que fiz seu parto

Moldei-lhe a minha imagem e imaginação

Choveram vozes e ideias e ele mudou de partido

Elegeu-se dono e deus do seu coração

Disse que veio para espada e pra ter inimigos

Boneco rebelde expulsei-o do seu paraíso

Foi conseguir sustento com o suor do rosto

Fez roqueiro, empresário, ateu de improviso

Mas não iria ser meu amigo a contragosto

Discutimos dez anos nossa falta de amizade

E finalmente descobrimos que amizade é comércio de verdade

Audsandro do Nascimento Oliveira
Enviado por Audsandro do Nascimento Oliveira em 29/04/2020
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