Oposição

Desejo um dia sair às ruas pelado

E fazer com que os outros tenham

Vergonha de andar vestidos.

(Mal vestidos, diga-se de passagem).

Uniformes que disfarçam as formas disformes,

Reforçando a igualdade dos iguais,

Não servem no meu corpo extraterrestre,

Que se recusa a ser colonizado por robôs.

Eu busco o contrário do contrário,

A dúvida que ninguém quer tirar,

A palavra que ninguém quer escrever

Ou tem medo de pronunciar.

Quero ser o cata-vento que gira

Na direção contrária dos costumes,

O pingo de chuva que se nega a cair

Numa tempestade que não molha.

Um cérebro mais sensual que um corpo

E mais desejado que uma parte deste,

O antônimo de qualquer sinônimo de esperado,

A moda tomada como ridícula

Sob o pensamento jamais refutado.

Eu quero, caro leitor, viajar pra onde

Não há caminho, nem destino a se fotografar.

Levar na mala o que ninguém usa;

A minha visão e meu jeito incerto de caminhar.