O RELÓGIO DAS ALMAS E DOS CORPOS
O tempo é feroz assassino/ Destrói a esperança da gente
Faz do velho irritado o menino/ De viúva esnobe, a moça carente
Muda os ideais do nosso orgulho/ Transforma em guerra, a paz do viver
Embaralha os sentimentos no escuro/ Faz do desespero o que era prazer
Dá bengalas ao engatinhar do bebê/ Dá sono a um dia corrido
Dá orvalhos a um temporal de morrer/ Dá sol a um cego perdido
Traz choro a uma festa de risos/ Traz flores a um cemitério covarde
Traz verdades aos tolos indecisos/ Faz cedo o que fora já mui tarde
O tempo também concilia/ Aproxima inimigos de morte
Une extremos: a noite e o dia/ Cura as dores sangradas do corte
É um elo que liga mil mundos/ Misturando tudo e todos num nó
É o pai dos sentimentos profundos/ faz da vida e da morte um só.