BALADA DAS HORAS ANTIGAS...
I
Na névoa fosca e fria
das noites intermináveis,
sem lua e sem estrelas
num céu invisível... sem horizonte,
adivinho ruas úmidas e vazias...
e ouço passos apressados
no ritmo de todos os relógios
confidentes de horas antigas...
II
No silêncio da noite estupefata
as vozes estridentes de pequenos jornaleiros
cadenciadas na surdez de pés descalços
apregoam com ironia
o nome dos jornais do dia...
É a hora das lâmpadas acesas
e dos pobres cansados do trabalho
depois das horas sem horário...
III
É o momento de todos os sossegos
no soluço de todos os tormentos...
pelos trilhos de aço companheiros
velho bonde se arrasta barulhento...
E os sinos das torres batizadas
anunciam merencórias madrugadas...
e há rumor de lentos carroções
rodando ao longe nas réstias d’alvorada...
IV
Ao tossir dos pobres operários
convocados pelo estrépito das fábricas,
sai o carro das manhãs enfarruscadas
conduzindo à “Pasárgada” querida...
V
Mas, não há mais lá, nem Rei,
nem amigos de oprimidos...