Devo Tentar
Eu poderia
Ah, eu poderia fazer isso – pensei
Atirado na cama e coberto pela penumbra.
“Sim, eu posso fazer”
Levantei e me derramei
Nas teclas e na folha em branco.
Escrevi centenas de versos
Repleto de mim; de amor e malicia.
Levantei o copo em mão
Pude me ver como um escritor,
Daqueles dos bons.
Eu poderia
Eu poderia caminhar por horas
E esbarrar em alguma linda mulher,
Poderia ama-la, eu poderia sentir amor.
Mas não há como enganar o meu coração,
Ele não é cego como minha loucura.
Meu romance, minha poesia, minha sede
Já possuem um nome e uma alma.
Desconheço ambas coisas,
Essa informação está pregada,
Escrita, desenhada no traço do destino.
Eu poderia
Eu poderia acreditar no destino,
Escrever essas poesias e contos
Acreditar que minha escrita enfurece Deus,
Transcrevo e descrevo a criação desse velho.
Ele deve odiar isso, escrevo sobre toda a vida;
Alma, loucura, amor, ódio e raiva,
Mulheres, homens da poesia, mundos,
Sobre o céu e sua imensidão.
Escrevo sobre tudo que Deus tem medo.
Eu poderia
Eu poderia acreditar que deus é uma mulher,
O mundo e a criação me parecem tão lindo quanto,
O céu e o oceano me lembram o mais belo par de olhos,
O respirar e viver me parecem salgados como um lábio feminino.
Eu poderia acreditar que deus é um poeta, uma poetisa.
Não há mais espaço para poetas,
Reivindicamos os tronos dos deuses,
bebemos todo seu álcool,
Impressionamos as deusas e deuses da poesia.
Mas nada disso garante nossa existência.
Eu poderia
Eu poderia muitas coisas,
Mas escolhi escrever e morrer,
Surgir e desaparecer como um verso.
Amar e fazer amor da mesma forma
Que as últimas palavras de uma poesia
Fazem amor com a alma de quem a lê.