Na falta de lágrimas deixo a chuva chorar por mim

O pingo vem do céu e toca a terra

o pingo vem dos olhos e toca o rosto

a boca abre e a alma berra

o céu se ilumina e grita com gosto

A gota cai e escorre pelo chão

a gota cai e escorrem dores

o rastro na face revela a aflição

o rastro na terra rega as flores

O rugido do céu anuncia a tempestade

o rugido da alma um furacão

o choro do céu castiga a cidade

o choro da alma liberta o coração

O pingo que vem do céu descansa nos mares

o pingo que vem dos olhos se esconde num travesseiro

as lágrimas das nuvens dançam pelos ares

as lágrimas dos olhos morrem num banheiro

E quando o pingo dos meus olhos já não escorre

deixo a chuva chorar por mim

e quando minha voz falha, seu som morre

deixo os trovões bradarem por mim

E me banho no seu desaguar sobre o mundo

sentindo cada gota como se fosse minhas lágrimas

assim vou me lavando de cada sentimento imundo

por fim,

o céu abre,

o arco-íris surge

e colore minhas cinzas lástimas

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 16/02/2020
Reeditado em 16/02/2020
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