SENTIR
Escrevo como o vento:
ora intempestivo, ora leve,
ora brisa suave, ora nada.
Escrevo como a chuva que cai feito tempestade,
Chuva branda, chuva garoa e estiagem.
Ora penso, ora sinto,
Pensar não é sentir e sentir não é pensar;
Penso e sinto como o mar e a praia,
que vivem se tocando,
mas não perdem sua identidade:
Ou se é mar ou se é praia.
Posso pensar que alguém é deveras amargo
e, ainda assim, sentir-lhe grande apreço.
Escrevo o meu pensar e o meu sentir
embora um nada a tenha a ver um com o outro.
O pensar é comum, é banal, é instantâneo;
O sentir é único, singular e duradouro.
Sinto a dor sem, contudo, pensá-la;
Penso a alegria sem, no entanto, senti-la.
Escrevo porque escrever é meu ser natural.
Se não escrevo também é o silenciar das palavras,
Não meu.
Não há como entender sem sentir,
E pouco importa o entendimento,
A mim basta o sentimento.