Só tava pensando

Escrito em 15-18/11/2019

Fulgurosamente o frio me atravessa

Esta parede de concreto, dura

Um castelo de minha mesma vontade

De meu desejo, minha ambiguidade

Do meu mundo, do meu medo, coragem

Refúgio dos sapos e borboletas

Baratas do concreto surrado

Estão lá fora em seus bueiros sujos

Essas torres tortas estão sumindo

Na vastidão da proximidade vista

De olhos fechados não sei se vejo

O mundo que é, está e deve ser visto

Eu me abandono, às vezes perco o gosto

De fazer o que quero (se é que quero)

Sou todas as inconstâncias do mundo

E o mundo tem certeza disso tudo

Não sei por onde devo passear

Mas fico por aí passeando

Olhando para os lados do caminho

Dentro deste céu inexpressivo, alvo

Todos os dias são de inverno agora

Levei-me sonhando pelo tempo que

Descorre de ordem ou de progresso

Com uma pedra atirada em minha cabeça

Afundando-me até o osso do celeiro

Amortecido por tecidos frios

Maquinados não humanamente mas

Por algoritmos servos da moeda

Eu me escondo da chuva que mais amo

Meu espírito frio e trêmulo

Ateiam calor nesta cova de testes

Pressionada por leves viradas

Sozinhas no calor da solidão

Não consigo dormir nem acordar

Tem um vapor morno perambulando

No ar, um fantasma, uma aparição

Invisível, deitada no córrego

Da minha consciência esfumaçada

Está ficando cada vez mais nublado

Os tons de cinzas fazem seu contraste

Na nitidez da suavidade, céu

Tão próximo não me embrulha para ele

É um espelho, claramente é, de nuvens

Caia a alegria do calor lascivo

De uma floresta de olhares que já vi

Divertidos e espontâneos, difíceis

Afastados de mim por causa minha

O calor do corpo congela a mente

Momentos que não passei (se é que são)

Devaneios de ruas e beijos

Nomes, idílios, apelidos bobos

Ao arfar das costas contra paredes

Pintadas do fundo do nosso amor

Fogo invisível, rostos ofegantes

É libertador estar preso aos outros

Que também se prendem ao sentimento

Mas todos esses pensamentos só

Por ficar pensando meu presente?

Longas horas nesse vai-e-vem

Só vou e volto ao mesmo lugar que estou

Já passou da hora. Vou desligar

O abajur que ilumina estas sombras