Narciso
Somos cegos!
Uns cegos sentimentais
Quando se ama não enxerga
Quando não se ama nada vê
Quando está eufórico
Não visualiza a realidade
Com os olhos inundados de tristeza
O que poderia ver?
Outrora a razão fala tão alto
Tampando as vistas
Ou tão baixinho
Tão miudinho que não se pode ver
De joelhos rezando pela sua fé
Ou aquilo que sua inteligência conseguiu entender
O que poderia ver?
Tão mirolho ao dar o nó da gravata
Ou com os olhos tão revirados para o alto
Ao ajustar os cabelos
Olhos cerrados ansiando
No horizonte vê a sua vez
Com bastante colírio
Para suportar onde não queria estar
Mergulhando os olhos
Na boca sedutora
Perdendo cada dia mais o grau
A postura diante do que enxerga como injustiça
O olho direito foi-se com o ponteiro das horas
O esquerdo olhando o mundo
Vesgos de tanto olhar a senha
Seguimos o instintos
Vamos nos batendo um nos outros
Esmurrando-nos
Chutando-nos
Satirizando o jeito de viver
Já que não enxergamos os nossos
E vamos seguindo cegos
Neste vasto universo
Boiando no oceano
Flutuando no ar
Procurando provar que estamos sim, a enxergar.