POEMA DAS RESPOSTAS
De que me vale ser poeta, se ando tão infeliz?
Nenhuma dor me consome; nenhuma flor me acaricia.
Nenhum calor me aquece; nenhum arroubo de alegria.
De que me vale ser amante, se não tenho tua companhia?
Nenhuma fuga do teu quarto; nenhum encontro às escondidas.
Nenhuma valsa dançamos; inacabada sinfonia.
De que me vale ser ator, se a crítica não me prestigia?
Faço cenas de ciúme, papel de revolucionário, anarquista.
Mas, que fique registrado, nunca fui protagonista.
De que me vale a vida, sem saber ao menos se ela continua?
De que valem as minhas escolhas, se o que não escolho também influencia?
Um morto vale tanto quanto um povo esquecido por Deus.
Ora, o poeta é sentimento, seja verdadeiro ou fingido.
Do verso branco à rima, da métrica ao verso livre.
Jamais presenciei outro ser tão desinibido!
Amante é bardo, galante, sim, ele a ama.
Acorda sorridente, sonhando com seus beijos.
Amor que ainda não a conheceu na cama.
Ator é entrega, não importa o quão pequeno seja o papel.
Uma estudada encenação, distante da dissimulação.
Toda arte pede sacrifícios, num trabalho disciplinado e fiel.
A vida vale pelas emoções, conquistas e amores.
A alma resiste, sobrevive, continua e até recomeça.
Deus dá a cada um de nós o dom de criar sabores.