A seita
Pingos de consciência sobrevoam
sob minha cabeça, olhos e pele
as dores de estar consciente atordoam
e por mais que por mim alguém vele
sinto a densidade do ar a sufocar
poeira cinza por todo horizonte
salgada como a água do mar
amarga zarpa aos montes
cega-me de todo jeito
a ausência da imagem arde
batuca sem parar no peito
mudanças? é tarde
movimentos dispersos
roda! és vento limpo, audaz
vivemos noutros universos
de vida serei capaz?
não vivo, faço casa em mim
encobro-me, tartaruga no escuro
será igual de fim
nada meu, nada seguro
perdida na consciência do ser e não ser
de tanto querer felicidade caiu
no vazio da existência, meramente ter
estar aqui e só, o prazer saiu
todos querem fazerem-se felizes
nenhum deles é o dono da receita
resta conosco fazer as pazes
e pronunciar que assim aceita
dos humilhados: a seita.