trinta milhões
Bem vês, agora chove
Trinta milhões de impactos esparsos
O mundo é a paleta das tempestades
E do fumo dos cigarros, nas pessoas e prédios.
O vento faz dos meus cabelos
A copa das árvores invernais
Despidas do verde e bailando
A dança esquálida da morte.
Enxergo sentido nesta morte
Dos cabelos, árvores e promessas
Em toda temporalidade fugaz
Que transforma o azul perpétuo
Nas destrutivas borrascas cinzentas.
Enxergo sentido nesta vida
Do encolher trêmulo das aves
A desconfiança do felino doméstico
Que assim como nuances de Heráclito
Concebem a efemeridade dos estados
E que o azul de algum modo lá estará
Embora não esteja.
O externo como um todo é apreensível
E mesmo que eu não o compreenda sempre
Ainda resta-me um certo alívio
Por saber que ele desdobra-se para mim
Em milhares de labirintos e incógnitas
Que existem, que simplesmente existem.
O interno que carece de sentido
Esse interno de solidão e pluralidade
Flutuando num abismo de inexistência
Incapaz de tomar a forma das moléculas
Mas que arde-me nas vísceras
Como se brasa real fosse
Brilhando com a intensidade de mil sóis
E desnorteando meus sentidos
Sem um fio de Ariadne.
E terminamos todos assim
Acoçados pela permanência frívola do externo
Que ri-se da própria simplicidade
Da existência que existe
Enquanto as formas humanoides das mãos minhas
Contêm as lágrimas materialistas
De algo que não existe para fora de mim
E nem dentro de mim.