Cotidiano

hoje acordei em mais uma pressa

incapaz de dedicar-me ao morno da cama e dos olhos

num salto, já era dia, havia coisas, muitas coisas

lancei a vida para o alto como a poeira é lançada pela vassoura

maquinal, definitivamente maquinal, na ordem apertada do relógio

cujo tempo comprimido me era sempre pouco

foi apenas na efusiva lavagem de roupa

após tanto processo, ordem e correria

meus olhos pousaram em verdes morros

à luz primaveril

e havia vento, sol, farfalhar, cheiro de concreto e terra batida

meu gato achegou-se ao muro

em passos de quietude

respirei consciente pela primeira vez

depois de tanto cotidiano

e dentro de mim

encontrei meus verdes morros

sem pressa nem saltos

em que o amor é um farfalhar

da dócil goiabeira...

Zéfiro Alves
Enviado por Zéfiro Alves em 31/10/2019
Código do texto: T6784036
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