Cotidiano
hoje acordei em mais uma pressa
incapaz de dedicar-me ao morno da cama e dos olhos
num salto, já era dia, havia coisas, muitas coisas
lancei a vida para o alto como a poeira é lançada pela vassoura
maquinal, definitivamente maquinal, na ordem apertada do relógio
cujo tempo comprimido me era sempre pouco
foi apenas na efusiva lavagem de roupa
após tanto processo, ordem e correria
meus olhos pousaram em verdes morros
à luz primaveril
e havia vento, sol, farfalhar, cheiro de concreto e terra batida
meu gato achegou-se ao muro
em passos de quietude
respirei consciente pela primeira vez
depois de tanto cotidiano
e dentro de mim
encontrei meus verdes morros
sem pressa nem saltos
em que o amor é um farfalhar
da dócil goiabeira...