Amo garrafas, domingos e protesto mas odeio todo o resto

Eu odiava os movimentos das danças

odiava os sons das risadas

odiava os olhares repletos de esperanças

odiava as pessoas, todas me eram indesejadas

Me acostumei com os choros dos funerais

o silêncio e a dor do luto

só queria a companhia da tristeza e de ninguém mais

a única dama que de fato desfruto

Eu odiava que as garrafas ficassem ocas

vê-las vazias era como me olhar no espelho

queria continuar beijando suas bocas

dando goles após goles deitado no assoalho

O barulho do vidro encostando no chão

o teto rodando como um carrossel

eu rasgando meu peito procurando um coração

e a carne desaguando o sangue numa folha de papel

Odiava aquele tic tac que não parava

me amaldiçoava por ter colocado um relógio na parede

parecia que o ponteiro de mim zombava

e as garrafas não saciavam minha sede

O sol ardente batendo na janela

E os papéis dormindo pelo chão

eu estava livre, mas me prendia numa cela

pra escrever versos sobre cada decepção

Na rua nada se ouvia

todos domingos eram assim

talvez por isso esse era meu dia

talvez por isso quisesse que ele não tivesse fim

Eu amava o álcool correndo em minhas veias

assim como os gritos em um protesto

amava os domingos e garrafas cheias

e odiava todo o resto

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 04/10/2019
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