Amo garrafas, domingos e protesto mas odeio todo o resto
Eu odiava os movimentos das danças
odiava os sons das risadas
odiava os olhares repletos de esperanças
odiava as pessoas, todas me eram indesejadas
Me acostumei com os choros dos funerais
o silêncio e a dor do luto
só queria a companhia da tristeza e de ninguém mais
a única dama que de fato desfruto
Eu odiava que as garrafas ficassem ocas
vê-las vazias era como me olhar no espelho
queria continuar beijando suas bocas
dando goles após goles deitado no assoalho
O barulho do vidro encostando no chão
o teto rodando como um carrossel
eu rasgando meu peito procurando um coração
e a carne desaguando o sangue numa folha de papel
Odiava aquele tic tac que não parava
me amaldiçoava por ter colocado um relógio na parede
parecia que o ponteiro de mim zombava
e as garrafas não saciavam minha sede
O sol ardente batendo na janela
E os papéis dormindo pelo chão
eu estava livre, mas me prendia numa cela
pra escrever versos sobre cada decepção
Na rua nada se ouvia
todos domingos eram assim
talvez por isso esse era meu dia
talvez por isso quisesse que ele não tivesse fim
Eu amava o álcool correndo em minhas veias
assim como os gritos em um protesto
amava os domingos e garrafas cheias
e odiava todo o resto