“Para onde vão”

Roma 22/07/2019

Às vezes me pergunto

Onde está?

Aquele que aqui acordou

Alguns dias atrás

Aquele de ontem

De hoje

O de vinte minutos atrás

Onde estão?

Recuso-me a acreditar

Impossível aceitar

Que somos o mesmo

Um time a esmo

Dizem os esotéricos

Também os filósofos

Que a cada dia

Quando soa o relógio

Somos um outro

E muito raro

Inteiros

Algo um pouco lógico

Às vezes falta dia

Por que são mais de um

Em um dia inteiro

Pude contar mais de trinta

No último mês de fevereiro

Mas o que sinto

É que alguns

Não são novos

Já os conheço

São sempre os mesmos

Velhos

Viciados

Fracos

Vis

Ignóbeis

Que vem para testar

Algo que está

Por trás dos espelhos

E de todos os ‘nós’

O verdadeiro guerreiro

Meu ‘Eu’ derradeiro

Eles

Que vem

Que ficam

Que vão

Que acordam

Discordam

Dia sim

Dia não

Nobres colegas

Professores

Amigos

Irmãos

Também inimigos

Desde a infância

Brincam comigo

Me levam ao chão

Talvez a vida

No que ouso resumi-la

Seja essa coisa

Tão sábia e bonita

Que dizem os orientais

O movimento das ondas

Um ciclo divino

O Yin e Yang

Um quase eterno;

Errar

Retrair

Pensar

Corrigir

Levantar

Redimir

Expandir

Ao pulsar

Prosseguir

Mas algo me intriga

Vejo uma intensa busca

Pela cura do Alzheimer

E de outras anomalias

Mas como curar uma memória

Que diante dos mesmo erros

Se dobra

Insiste em falhar

Reabre feridas

No fundo me sinto

Cada dia mais forte

Mais lúcido

Acordado

Mais vivo

Entre os ‘mortos’

Talvez venha daí

Esse medo que corrói

Não a mim

Meu verdadeiro ‘Eu’

Mas esses outros

Inquilinos soltos

Que sentem o risco

De serem Despostos

Postos

Em uma sala

Trancada

Sem saída

Blindada

Sem ter mais brinquedos

E dos desejos

Ficarem órfãos

Talvez desapareçam

Junto com o medo

O pesado orgulho

E a vaidade

De um ego tolo

E ilusório

E mesmo nesses dias

Como agora

Em que escrevo

Ainda não controlo

De qual deles serei o cais

Qual deles

Por comunhão

É que comanda

Os meus dedos

E os ensejos

Até então

Mas sinto algo

Que por hora

Até posso chamar de paz

Entendi que a vida

Por enquanto

Nesse exato momento

É isso mesmo

Para todos nós

Se equilibrar

Entre os ‘eus’

E os amores

Entre os meus

E essas dores

Entre os seus

E os meus pavores

Entre os erros

Os acertos

Entre o doce

O amargo

O azedo

E os dissabores

Quando acordo bem

Bem mais aprendo

Um tanto cresço

Me reconheço

E enobreço

Nos outros dias

Controlo desejos

Que são intensos

Alguns apegos

Mas nada temo

Nem mesmo tremo

Nessa ousada luta

Para não regressar

As dores que vivemos

Acho que é isso

O que chamam

Estar desperto

Ter bem claro

A todo momento

Um segredo

Que foi espalhado

Pelo universo

Não levantar

Sem acordar

Os sonhos primeiro

Nunca deixá-los

A mofar

Debaixo do travesseiro

E ter bem claro

E sempre lembrar

Para onde não devo ir

E para onde não quero

Não posso voltar.

o sarto
Enviado por o sarto em 22/07/2019
Reeditado em 25/07/2019
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