## POEMA ASSIM, DO NADA ##
Poetas confabulam na madrugada,
versos se cruzam pelas esquinas da vida,
a cama espera o sono dos injustos consigo mesmos,
num olhar distante, num caminhar a esmo.
Escolhem o silêncio das revelações
ou mesmo o barulho delas, ensurdecedores.
Um bem-te-vi apressado, também acordado.
Não está cedo, pássaro aluado?
Mas o que é cedo diante do tempo ?
O que é o tempo diante do Universo,
que não se define e nem se revela?
A madrugada esfria e o dia em breve apontará.
Ainda nem estou pronta para a porta,
nem mesmo preciso sair.
O bem-te-vi se calou, parecendo me ouvir,
ainda é muito cedo, bem-te-vi...
Olho a Lua, recém coberta pelo Sol,
num eclipse, lampejo astral erótico,
onde uma estrela cobre um astro,
que antes apenas a iluminava ao longe...
Acolheu-se entre a Terra e o Sol,
num aconchego tão distante de mim,
tão distante de nós...
São os nós da vida que ninguém desata.
Ando a rondar por entre os becos,
procurando coisas escondidas
entre latas e camundongos. Aventureiros?
Sim, sim... sem medo dos perigos.
E não é que cortei o poema ao meio?
Nesse andar tão distraído de rasuras,
aproveitei as fissuras e restaurei
parte de algum poema vencido.
(Taciana Valença)