Encontre o que você ama e deixe isso matá-lo
Encontre o que você ama e deixe isso matá-lo
e assim eu faço todas as noites antes de dormir
encontre o que você ama e deixe isso matá-lo
e assim eu faço quando meus olhos começam a abrir
E por todo o mundo ouço o ladrar dos cães
acompanhado dos berros dos vagabundos
seguido do murmurar dos marinheiros e suas infelizes canções
e sinto suas dores, e escuto seus pensamentos imundos
E vejo em meus olhos os bêbados caídos nas portas dos bares
revoltados com mais um dia cansativo nas fábricas
se arrastando pra que possam voltar a seus lares
lembrando do culto dominical e das fúteis morais bíblicas
E em minhas veias corre cada lamento
dos que acabam desistindo e caem nas esquinas
sendo batizados pelo relento
e também dos que estão em bordéis
sendo abençoados por santas vadias
E todos estão morrendo aos poucos pelo que amam
apodrecendo a cada maldito segundo
mas com isso sequer se importam
eles continuam fodendo a moral e cagando pro mundo
pois estão morrendo pelo que amam
As palavras me amaldiçoam como marinheiros rancorosos
as palavras me bebem como bêbados sedentos
as palavras me estraçalham como cães famintos
as palavras me ferem como algozes impiedosos
E eu morro quando começo a escrever
e a caneta em luto faz uma letra aparecer
até que por fim, no papel, enterra-se os restos do meu ser
Encontrei o que eu amo e o deixo me matar
deixo que me devore como o mais faminto dos carniçais
encontrei o que eu amo e o deixo me matar
até que consuma minha carne, meu espírito e não sobre nada mais