Encontre o que você ama e deixe isso matá-lo

Encontre o que você ama e deixe isso matá-lo

e assim eu faço todas as noites antes de dormir

encontre o que você ama e deixe isso matá-lo

e assim eu faço quando meus olhos começam a abrir

E por todo o mundo ouço o ladrar dos cães

acompanhado dos berros dos vagabundos

seguido do murmurar dos marinheiros e suas infelizes canções

e sinto suas dores, e escuto seus pensamentos imundos

E vejo em meus olhos os bêbados caídos nas portas dos bares

revoltados com mais um dia cansativo nas fábricas

se arrastando pra que possam voltar a seus lares

lembrando do culto dominical e das fúteis morais bíblicas

E em minhas veias corre cada lamento

dos que acabam desistindo e caem nas esquinas

sendo batizados pelo relento

e também dos que estão em bordéis

sendo abençoados por santas vadias

E todos estão morrendo aos poucos pelo que amam

apodrecendo a cada maldito segundo

mas com isso sequer se importam

eles continuam fodendo a moral e cagando pro mundo

pois estão morrendo pelo que amam

As palavras me amaldiçoam como marinheiros rancorosos

as palavras me bebem como bêbados sedentos

as palavras me estraçalham como cães famintos

as palavras me ferem como algozes impiedosos

E eu morro quando começo a escrever

e a caneta em luto faz uma letra aparecer

até que por fim, no papel, enterra-se os restos do meu ser

Encontrei o que eu amo e o deixo me matar

deixo que me devore como o mais faminto dos carniçais

encontrei o que eu amo e o deixo me matar

até que consuma minha carne, meu espírito e não sobre nada mais

R J Ferreira
Enviado por R J Ferreira em 03/07/2019
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