A FESTA

Em mim, um navio aporta
e traz do novo mundo
extraordinárias especiarias.
Coisas belamente espantosas
caem nas mãos de meu povo:
penas, peles, panos, pedrarias,
diferentes cores, novos sentidos.

Há festa e girândolas,
bebidas, suculentos frutos,
antigas anedotas ganham
novas nuances, nova graça.
Danças e poemas brotam
diante dos olhos e dos ouvidos
de minha fascinada gente.

Só eu sou a pedra
e não me movo.
Absorto, aprecio o espetáculo
como se quisesse tirar
desse farnesim intenso
alguma sabedoria.

Poderia estar entre os meus,
mas o meu pensamento é cativo
dessa insana busca
pela razão íntima das coisas.