ESTRELAS
Estrelas que há muito se foram
Emitem seu brilho lá de cima
E distraídos, apontamos para elas...
Como pode ser possível
Que elas estejam lá, sendo que não mais estão?
O vento passa, arrancando as folhas,
E elas sempre voltam a brotar,
Soltam-se sem reclamar,
E nenhuma delas, nenhuma,
Tenta segurar-se.
Quem são essas folhas, em quem tanto confiam?
As águas de um rio passam sobre as pedras,
Tantas e tantas vezes, que as tornam lisas,
Limosas, arredondadas,
Pedras formatadas em vida...
Como podem as pedras saberem mais do que eu?
Como pode o mesmo céu ser azul e ser breu,
E o dia ensolarado de repente virar chumbo
Numa tempestade que arrasta mundos?
Como pode, meu Deus, eu conversar contigo
Sem nem sequer saber de que o teu rosto é feito?
Eu me olho no espelho, e de relance
Rapidamente, em um breve lampejo,
Vejo dentro dos meus olhos estrelas que brilham,
Que estão aqui, mas que já se foram.
Eu deixo que o vento me arranque as memórias,
E as espalhe pelo chão, sem que eu tenha certeza
De que um dia elas voltarão...
O rio passa, e carrega consigo
Tudo o que foi meu, e o que tem sido.
Sobre a minha pele, um musgo antigo,
Escorregadio e muito, muito liso...