As cicatrizes do sertão
Quando eu olho pra você
Eu vejo o sertão
Onde a chuva não alcança a terra
Onde o solo é rachado como os pés
E a lâmina da inchada?
Que nem faz ideia de como a terra fértil?
Da dor de cabeça caminhar no sol
Da dor de cabeça ver só fruta peca
Vaca magra
O vento nem chega
As praças são desertas
Quando eu olho pra você
Eu vejo cactus
Eu vejo melhor as cores
Eu quero me queimar neste sol
Do seu sertão
Ouvir minha poesia sair da tua boca
E sentir cada pedaço do meu corpo
Na palma das suas mãos
E ser tão
Bonita assim
Sem essas luzes todas
Sem este alvoroço das buzinas
Sem essas dificuldades
Para manter-se importante
Sem essa importância toda
No que não te quer
Quando eu olho pra você
Te sinto ser tão
Te sinto
Sertão humanizador
Meu céu sulista relampeja
E mostra as mesmas cicatrizes
Do seco interior