LEMBRANÇA DA HENRIQUE SCHAUMANN
Pode ser que esta de hoje seja a derradeira dor.
Pode ser, esse de agora, o meu ultimo penar.
Pode ser a ultima vez que,
enquanto o mundo não gira,
o telefone sugira o seu nome acrescentar;
uma sugestão perversa, logo após eu digitar um artigo definido feminino singular.
Pode ser a ultima vez que passe por mim a idéia
de saber a sua resposta, de exibir o meu cansaço
quando bate-me o seu gosto, o seu rosto; seu abraço.
Pode ser que a Henrique Schaumann
guarde em si uma lembrança
de um sorriso e de uma andança
que durava a noite inteira,
sem rumar, sem discrepância, marco zero sem bandeira.
Talvez num jasmim caído,
talvez numa primavera -
"Que linda, essa primavera!" -
Pode estar tudo esquecido.
Pode até ser que uma moça,
transeunte intermitente,
interprete "Feeling Good"
numa leitura diferente,
original, transparente,
arrastada, bonitinha
e fofinha, bem fofinha,
tão fofinha e contundente.
Pode ser que ela, passando e cantando o seu rubato,
com seu jeito amanhecido, faça-me entender um fato:
Os jasmins e as canções, os sorrisos e os artigos, as andanças e as promessas, e até mocaccinos são parte de um ambiente que nos envolve em seu meio, e ainda que haja desgaste, e ainda que haja receio,
pode ser que eu compreenda que essas coisas acontecem...
e depois desacontecem.