“De repente, olho no espelho”
E vejo alguêm que não parece ser eu.
É a imagem de um homem que nunca vi.
Pergunto-me: Quem será esse velho,
Que está usando o rosto que era meu?
“E onde está o jovem que morava aqui?”
 
“Pergunto: “ Quem é você, invasor”
Que o meu corpo agora está a ocupar,
Como grileiro que uma terra invade?
Porque artes, magia ou destemor
Você ousou se por no meu lugar?
“Mostre-me o seu título de propriedade.”

“Você partiu e me deixou no abandono.”
Trocou sua juventude por um desejo lascivo.
Tudo que você tinha, você negligenciou.
Mas toda terra precisa ter um dono,
Por isso é que, agora, eu aqui estou."
Ele disse. "Sou eu que o mantenho vivo.”
 
“Foi então que me veio a constatação:"
Eu não percebi a ocupação intermitente
Que a idade estava fazendo do meu corpo.
Por isso vejo esse alguém tão diferente.
Onde havia um jovem há agora esse ancião
“E aquele moço talvez já esteja até morto.”
 
“Andei me usando apenas para o lazer
Como fazem todos esses fazendeiros,
Que compram terras somente para explorar,
Largando tudo nas mãos de terceiros.
Quando, um dia querem se estabelecer
Já encontram outro dono em seu lugar.”
    
E muito mais me disse mais o abusado:
“Quem sai e não se apressa em voltar,
Está fugindo ou não gosta do que tem.
De qualquer modo já perdeu o seu lugar,
Porque ele agora está ocupado por alguém
E aquele jovem já está morto e enterrado.”
 
O tempo passa longe da nossa percepção
E não é no corpo que a idade se concentra.
Pois na verdade, onde ela mora é na mente.
Como posseiro, chega de mansinho e entra.
E depois que a idade tomou conta da gente,
Não dá para voltar, pois ela já fez usucapião. 
                  
E mesmo que ao jovem  a gente quisesse voltar,
Iríamos 
descobrir que faltam pernas para andar...