(A)ONDE EU POSSA VER O SOL
Me leva, meu anjo, aonde eu possa ver o Sol.
Há um leve momento, aqui dentro, onde a morte desejo.
Mas, em um instante nada mais sinto, nada mais vejo, nem sequer um lampejo,
De tal vontade insana.
A alma branda não morre, mas, não raro, a dor escorre como lágrimas,
Lamúria escrementa, rancorosa e cruenta...vai passar?
Me leva, meu anjo, aonde o Sol possa me ver, não quero antes disso morrer.
Mas morrer não existe, apenas persiste uma coisa estranha, que queima o peito, porque dor tamanha, que insiste em viver?
A quem eu disse "te amo", o que foi que criei?
Qual fúria buscaste em tuas memórias, que me despiste de toda história
Outrora doce como o mel de Apis?
O que eu fiz? Matei a mim mesmo? Temor indolente? Algo inconsciente?
Me diz, o quê?
Me leva, meu anjo, onde eu possa ver o Sol.
Há um vultoso momento, aqui dentro, onde a vida me enche
mas o agora é presente, não mais é passado, eis que a morbidez do desagrado,
Foi-se pra sempre e não tornará,
Quiçá em um breve momento insólito,
Mas o brilho latente como um lacólito,
Desejo permanente do renascimento,
Sol do novo dia, nova estação,
Estilhaça o vil desejo da morte,
Eis que me é dada, de bênçãos divinas, toda sorte, enchendo de júbilo o coração.
Me leva, meu anjo, aonde eu possa ver o Sol.
O Sol da verdade, da cristandade, do amor,
O sol da existência, da não-opulência, da flama divina,
Do doce sabor,
Já não há mais medo, da dor que vem forte,
Do pranto-agonia, do cheiro da morte,
Da ânsia voraz que ameaça o sono,
Pois o abandono da auto-dolência, cristalizou-se na consciência,
Daquele que outrora canhestro e bisonho, agora vivendo tão belo sonho,
Tem o refrigério, pode respirar.
Aonde eu possa ver o Sol, tu me levas, ó anjo meu?
Porque o hoje é feliz, pois algo me diz: a morte morreu.