Vejo com meu coração
Sua carência.
Apiedo-me.
Rogo misericórdia aos céus
silenciosamente.

Prostrando minhas veias
ainda pulsantes
sobre o abandono latente
de sua infância.

Vejo com meu coração.
Sua falta de jeito.
A psicomotricidade comprometida.
Ninguém lhe segurou a mão
para empunhar o lápis.

Para desenhar
a letra de seu nome
Para esquadrinhar a história.
sem rédeas,
sem esporas,
 e sem cavalo baio.

Só havia uma esperança.
Uma singela tarde
Nuvens que dançavam flamenco
E como ciganas
previam o futuro.

E você chegou ao futuro..

Vejo com meu coração
Moído.
Envelhecido
Que você já venceu.

Mas, apenas não se convenceu disso.
Venceu a infância banida
Os sentimentos puídos
A rejeição momentânea.
O pigarro, a gagueira
e o eventual sem-jeito.

Apanhou-se como sujeito.
Escreveu sua história.
Com a sua letra.
Com a sua alma.

E, depois, se libertou
das dores e dos medos.
E, agora, também vê
com o coração...

Já dizia Exupery
Só se vê bem com o coração.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 05/09/2018
Código do texto: T6440627
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