APÓS O CAFÉ
Existencial
Dói meu peito...
ah, esse dói pra caramba!
Parece que doer é viver...
e viver é estar andando.
Não, não acho que viver é dor...
mas acho que viver, dói!
E dói porque os percalços da vida
insistem em nos seguir
e a cada passo que a gente dá
tem sempre uma pedra, um espinho...
tem sempre algo pra nos machucar.
Mas viver é seguir em frente...
é levantar-se das quedas
é tentar dar a volta por cima
é lembrar, às vezes tentar esquecer.
É desenterrar alguns mortos...
é insistir em doer pelo pouco tempo
que ainda tempo que teremos paz.
Não, a vida não só dor...
mas viver, ainda assim é doer
porque o choro faz parte
e a gente lembra mais da mágoa
do que da própria saudade.
E é isso que nos humaniza, eu acho...
essa busca pelo perdido...
esse olhar pra trás, sei lá...
como se tivéssemos medo
do que vem daqui pra frente.
A vida é cheia de incertezas,
mas é cheia de sorrisos...
algodões doces
gatos miando
cachorros latindo
e o lixeiro que recolhe o lixo pela manhã.
mas tudo isso passa...
talvez seja belo porque passa...
talvez porque no belo
esteja contida a sua finitude...
e o vazio que fica...
a vida é bela...
mas viver, ah, esse é complicado...
tão complicado
que é impossível não doer