Em cada tempo me esqueço
No tempo em que estou pra ser
Em que sou não me contento.
Finjo seguir sem mais querer,
Me desvio assim a bom tempo.
O eterno de ser em cada tempo
Se tornou o de tantos outros cursos
Pelos quais me levo e me deixo levar.
E as vezes desisto como um intruso
As vezes que se segue no tempo,
Nele me esqueço e acordo sem mais vê-lo.
Se perdê-lo, sei que não é mais pra sê-lo.
Deixo ir e o busco em outras eternidades.
Os tempos estavam cada um em mim.
Pra cada tempo um valor e sentimento.
Sem espaço, na memória ainda eterno.
Me perco por aí em cada momento.
Em tantos tempos em que invento.
Em alguns habito em outros me esqueço.
II
Um vento sopra levando o tempo,
Mas ainda assim me reinvento.
O eterno transborda de cada evento.
Salto sobre os signos e os invento.
Mal me percebo há outro tempo.
Há outro de mim aqui vivendo.
Tudo se perde e se reencontra,
Como o que se traz pelos ventos.
A alma é o sopro de cada momento:
Ventanias, odores, poeira e o tempo.
A natureza provê todas as coisas,
Faz das almas a mais bela flor perene.