Acostumado a ser
Partido em mil pedaços
Olhava o mundo com inteireza.
Vivendo o caos interior
Esbanjava vicissitudes por onde passava.
Recolhia o choro que insistia em se mostrar
Então, evidenciava a fortaleza feita de mentiras.
Acostumado a ser de outros
Julgava-se refletir as ideias que debatia.
Por instantes a vida era como poemas,
Métricas e rimas em plena evidência,
Mas esquecia-se que o papel, aceitava a tinta de modo irracional.
Não pensava no que vivia, ou se pensava, sua imagem denegria.
Apenas vivia a ilusão de dias sem fim.
Acostumado a ser de todos, não existia.
Por horas, fingia ser o que não se era,
Ou se era, não sabia o que lhe atingia.
Era tão acostumado a ser do jeito seu
Até perceber que o bico de pena não escrevia.
Deste instante foi-se o papel, a tinta, a vida...
Foi-se o poeta, que nem poema tinha.