A Noite
No sentir dos amantes,
Eterno esperar
No abraço ao vazio,
Clamor, chorar
Olhos necromantes
Mortos como d'antes
Insônia, minha enviada
Deslisar de ilusões
Mergulho em doces travessias
Noturnas e traiçoeiras poluções
Veios rompidos pela espada
Vultos dançantes na estrada
Anjos vinham antes ao homem
Boas-novas, linha descontínua
Vinde a mim, olhos desfalecidos
Desfaça-se a linhagem sanguínea
Portões crepusculares irrompem
Brumas só o tempo consomem
Vinde, ó andantes inânimes
Ouvi, caçadores das trevas
Aura de contos que odoram medo
Curas contêm vossas negras ervas!
Pois que vós, sombras infames
Sufocam-nos em braços pusilânimes
Turvos lençóis ocultando o luar
Sentinela a margear pântanos soturnos
És fétida guardiã da serpente sagaz
Espectro etéreo de escritos obscuros
Escuridão, quem te ousa os domínios penetrar?
Exceto aquele compelido a só matar?
Densa hora, excelsa neblina...
Olhos de coruja, mandíbula felina
A todos se encaminha, anjos ou demônios
Senhora que é de todos os sonhos
Eleva-me em vapores medonhos,
Suplicia-me com indizíveis açoites
A noite
A noite
A noite...