JANELAS DA ALMA

 

Por que fazer da aurora o preço de um suplício ?

Tristeza é ver-se diante de si e não ter sentido,

E não chamar o sol no labirinto da vida,

Ainda que o sonho clame por sentimentos díspares...

 

Céus, quantos mundos caberão em nós ?

Quantos versos caberão dispersos nas sensações

Tão humanas quanto lídimas, tão belas quanto sós ?

Pelas janelas da alma, vemos nossas dores como estações

De amores, encantos, desilusões, máscaras e delírios,

E, ainda assim, já nos conhecemos ?

 

Tudo é devaneio perplexo na estrada dessa vida,

Quando a alma já convida a velejar no fundo

De quem nós fomos e seremos nessa luz perdida

Nessa cruz contida de serenos sonhos tão sós no mundo

Quanto os passos medonhos da humana lida,

No verso que elucida o despertar profundo...

 

Armem-se, corações, armem-se desde cedo !

Não tenham medo de serem bombas de emoções,

Contendo em si o crucial segredo

Do bem e mal, aqui, nas intrépidas ilusões,

Preparem-se, corações,  armem-se desde cedo !


 

Pelas janelas da alma, veremos vida ?

Paradoxo é sentir-se morto apenas existindo,

Sem ver sentido que transcenda a dor,

No amor, no êxtase da paz sorrindo,

Na cor indelével que faz do céu a flor,

Escarcéu de flores numa aurora inerte,

Dinamismo, em dores, que desperte amor...

 

 

Pelas janelas da alma, veremos luz ?

Eis que a vida nos conduz a tantas incertezas,

Tantas intempéries do sonho que  seduz,

E, assim mesmo, seremos correntezas

Vagando a esmo nessa humana cruz ?

 

 Perguntas, perguntas, perguntas...

Tristeza é ver-se diante de si e apenas desabar sem véu,

Como incógnita suplicando sol no escarcéu da vida,

Ainda que o sonho clame por sentimentos díspares,

Além dos ventos no amor que acalma,

Aquém dos tempos nas telas do inconsciente,

Pelas janelas da mente a desaguar na alma,

Esse mar sem calma que se faz de gente !


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