::: QUEM MEDE O SILÊNCIO DA ALMA? :::
"Depois de se ter refletido bem sobre os princípios que fazem os governos agirem, sobre aqueles que os sustentam ou arruínam, quando se passou muito tempo a calcular com cuidado qual é a influência das leis, sua bondade relativa e sua tendência, chega-se sempre a esse ponto que, acima de todas essas considerações, fora de todas essas leis, encontra-se uma força superior a elas: é o espírito e a moral do povo, seu caráter" - Alexis de Tocqueville.
Local em que as eternas indagações se repetem
E fazem-nos sentir
A impávida salamandra do convívio.
Campo de narcisos
Cada qual incapaz de ver a beleza do sol
Que meu peito de girassol
Ingenuamente admira.
Marcha retumbante
Dos cadáveres arrogantes
Crendo que em si mesmos têm vida.
Eu que vivo a minha
Sou incapaz de entender
O como podem tão somente
Consumir a vossa...
As lides, os gládios e as dalmáticas de orgulho.
Asfixiante rotina de uma tautologia
Que minha crédula alma sofre em agonia
A sórdida amargura em que me afundo.
Melindres, vaidades e ambições em poços de entulho.
Uma palavra para essa vã sociedade: teratologia.
Terra em que cobre as almas de hipocrisia
E enche de armas um ser iracundo.
Lápis, caneta e agora um teclado que eu esbulho.
No começo o plano era modesto:
Rimas ricas, ritmo heroico e um soneto ou cordel.
Abandonei-as todas pelo amargor que me entope nesse fel
Para dar vida a essa poesia que tanto detesto.
Eu queria o silêncio, mas o ódio espalha seu barulho.
Quem mede o silêncio de uma alma?
Que em mim ainda reste a calma
De encontrar versos, poema e poesia onde eu mergulho.
"Se furtas alguém, furtas a ti mesmo" - Immanuel Kant.
-- SP 03/06/2018.