VALES DE PEDRA

Sob o manto pálido do outono

Acorda o sol suavemente do seu sono

O horizonte corado substitui o gris

Floresce a manhã preguiçosa e gentil

Da minha janela, olho para o mundo

Um olhar morno sem pensamento

Uma roseira chacoalha-se levemente

Ao passar de uma brisa inconsciente

Tudo flui, sem mim, tudo se auto organiza

O sol, a luz, o tempo, o dia, a brisa

Tudo transpira e conspira para a vida

A ideia de ser dispensável me incomoda

Como seríamos se não pensássemos?

Viver como um ente natural, sem dor

Sem os buracos impreenchíveis da alma

Doando e recebendo as graças do amor

Todavia nos ensinaram que somos Deuses

Um animal que pensa, sofre, ama e mata

Um ser inquieto que constrói mundos

Porque não entende as aflições do seu eu!

Desejaria não ter nunca mais pensamentos

Estar consciente sem se afetar p/ sensações

Apenas olhar ao redor, não dourar a beleza

Ser coisa, inalienável à realidade do mundo

Mas, porque me vieram estes pensamentos?

Logo agora que o dia se insinuava azul

Fecharei a janela e voltarei à rotina abjeta

Dos vales de pedra, nestes trópicos do Sul

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 30/04/2018
Reeditado em 11/01/2020
Código do texto: T6322887
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