NATURALIDADE
Sob o manto pálido do outono
Acorda um sol suave já sem sono
O horizonte corado substitui o gris
Floresce a manhã preguiçosa e gentil
Da minha janela, olho para o mundo
Um olhar pasmado sem pensamento
Uma roseira acena-me levemente
No passar de uma brisa inconsciente
Tudo flui sem mim, tudo se organiza
O sol, a luz, o tempo, o dia, a brisa
Tudo transpira e conspira para a vida
A ideia de ser dispensável me incomoda
Como seríamos se não pensássemos?
Viver como um ente natural, sem dor
Sem os buracos intapáveis da alma
Doando e recebendo as graças do amor
Todavia ensinaram que somos Deuses
Uma besta que pensa, sofre ama e mata
Um ser inquieto que constrói mundos
Porque não entende as aflições do seu eu!
Desejaria não ter nunca mais pensamentos
Estar consciente sem se afetar p/ sensações
Apenas olhar ao redor, não dourar a beleza
Ser coisa, inalienável à realidade do mundo
Mas, nem sei porque este pensar me veio,
Logo agora que o dia se insinuava azul
Fecho a janela e volto à rotina abjeta
Dos vales sem vida, nos trópicos do Sul