O MURO
O muro é alto.
Mas meu salto é mais.
O muro é rígido.
O meu cantar, porém,
em seu profundo desafinar,
me leva a desafiar
a firmeza do muro.
Meu grito abre fendas
e, das fendas, jorra a luz,
a luz do outro lado.
No outro lado, há festa.
Há um féretro do outro lado.
E eu aqui,
presa em meus versos,
quero olhar a rua.
E abrir o telhado
para ver a lua,
para ver o verde
à noite.
É alto o muro.
Mas tenho coragem
para tentar voar.