Iceberg
Julga pelo que vê;
Vê, mas não enxerga.
Os olhares rasos
Fitam apenas
A ponta do iceberg,
Julga pelo que vê.
Não enxerga
Sua profundidade,
Quanto tempo levou
Pra chegar até aqui.
Vê, mas não enxerga:
Por quantos longos
Invernos passou,
Quantos navios
Desorientados lhe partiram
Ao meio,
E mais uma vez
Teve de recomeçar.
Quantos dias
Sozinho em alto mar
Precisou resistir,
Juntando minúsculas
Partículas em seu ser.
Precisou ser
E não se deixar levar
Pela correnteza.
Precisou estar,
Ancorado na ideia fixa
De não se deixar abalar,
Por quem
Julga pelo que vê;
E o vê, mas não enxerga.