Voo
E hoje a maior questão de todas:
Para onde vão os poemas
Se ao se querer fugir dos problemas
As palavras não resolvem nada?
A expressão me silencia
Ainda sou metade
Do homem que se constrói com os tombos
Feridas da verdade
Mesmo quando mais aberto
E praticante da partilha
Arrisco a ter medo
De perder o entendimento
De forma simplista
À vida confesso meus terrores
O desentreter da angústia
Pena que a vida não é a vida
São os olhos do vento
O coração dum espaço intacto
A encher meus devaneios
Ao pé da janela aberta
O tempo passa e eu sei nada
Apenas isso, envelheço sem querer
Queria divertir-me
Acabei por escrever
Não como forma de lazer
Oxalá pudesse ser
A mente convida os dedos à acção
Voo preso na gaiola
Os problemas dos 23
A juventude senil
A deficiência em entender a morte
Mas voo, apesar de tudo
Escrevo para nada
Deve ser para aí então
Que voam as folhas digitais
De cada escrita canção.