JOÃO...

No hospital disseram aos pais que João era especial. Nasceu com sopro...

Ainda bebê, quando João soluçava, também ria, e na preocupação que havia, a cada soluço do João, toda a família sorria...

No seu aniversário de 4 anos, no escuro da cozinha, a última vela insistia em não apagar, e disseram “força, João”, então ele encheu o pulmão e soprou, a vela então se apagou, mas no céu, as estrelas brilhavam, bailavam e explodiam...

João era frágil... Resfriava fácil no frio. Às vezes até a respiração cansava, e cada vez que ele forçava os pássaros respondiam aos seus assobios...

Com dez anos matricularam João na natação. Toda braçada era um desafio, e nas vezes que o João afundava, ao voltar ele folegava, e treinador então gritava: Pega o ar, João! E a cada vez que ele inspirava até as nuvens ao chão desciam...

Aos quinze e franzino, recomendaram aulas de música para bem utilizar a respiração. João, fazia sax, flauta, tuba, gaita, trompete e clarim à exaustão... e só à noite ia pra casa, e enquanto ele descansava, nas vezes que ele roncava, a cidade toda enamorava ao som de uma canção...

Era um jovem de poucas palavras, mas em cada conversa com João, toda vez que ele te inspirava, você não se segurava e sem perceber com ele ia...

No fim da faculdade João conheceu uma garota, mas, logo adoeceu. A situação se agravou e, inconsciente, o internaram no melhor hospital. Após um exame o diagnóstico foi como um tiro... O problema dele era paixão, mas como nunca teve coração, no lugar só havia algo bem trancado e escondido... E a única chance de João era saber quem tinha a chave da salvação para abrir seu baú de suspiros...