Poema sem motivo

A poesia de repente não se compõe

descompõe os contrastes

Nenhum ruído de passos misteriosos

no apartamento ao lado

Disjunção de luz em relação à fresta

de toda janela da rua

Se do nada despontasse uma fagulha

uma sílaba incendiária

Um ruído que ressonasse de chuveiro

um enlevo meio verso

Um vestido desfraldando-se ao vento

se houvesse era chama

Um sentimento se pudesse caminhar

contornar a imensa ilha.