O DESATINO DO POETA...
Esse tempo de tanto tempo perdido entre os tempos de tantos outros momentos...
Essa fúria de tantas fúrias sentidas.
Esse vento impetuoso outrora brisa suave...
O mar bravio dantes tão sereno,
e minha embarcação de sonhos mil,
náufrago, submergindo...
Fugitivo que foge da próprio fuga de si mesmo,
contrário aos desatinos,
desse misterioso destino,
outrora tão menino, agora não mais pequenino,
mas ainda sim sorrateiro mundo infindo.
Alma de flores em pétalas de amores, pisoteadas por quem deveria ser sentidas, não na sola de pés calçados por desprezos. Porém, por mãos delicadas como as de quem encontrou a mais frágil criatura...
Horas perdidas por anos de minutos em segundos...
Amor em pobreza de espírito agora tão moribundo,
andarilho perdido do mundo...
Não senhor! Não sou poeta,
nem minha vida poesia,
sou o que o tempo por ele mesmo interpreta,
alma de flores em amores vazia.
Se meu tempo fosse um tempo em que o tempo valesse a pena perder tempo, eu perderia meu tempo com o amor... Pois no amor se ganha o tempo de que se necessita para sermos felizes...
Na minha inconstância tão inconstante, sobra-me o que eu chamaria de turvo sobrepujo do que jamais me pertenceu.
Sim meu Senhor! Não me atrevo a usar a escrivaninha da vida,
pois tão pouco sei do que vivi, que me embaraçaria na primeira linha de um rascunho...
Se porém naquela floresta de pensamentos eu me perder, que se escreva o tempo que levei para perceber, que o tempo não espera por ninguém... Que os mares nunca foram brandos, que o vento, nunca foi suave, que a minh'alma nunca foi de flores, mas que o tempo me proporcionou por um tempo, ser constituído de amores.
(Hámilson Carf)