O JOGO
O JOGO
Por Roosevelt Vieira Leite
O conhecer e o não conhecer estão na mesma cabeça. O primeiro é o sopro da dúvida, e o segundo a ilusão da certeza. A bela mulher seguia sua estrada; um fio de terra que parecia um rasgo branco no barro vermelho do sertão. Toda moça nova entende seu futuro ao lado de um porto seguro. Isto é racional, isto não é emoção. As pessoas acreditam em suas crenças e para elas se inclinam como um cacho de banana. A mulher andou sua milha, logo, logo, perdeu sua trilha; a moça viu que o homem não é papelão; a menina mulher entendeu que a aparência engana.
Um belo mancebo, filho de Campos, educado em uma boa escola que passou sem cola disse de seu estudo. O rapaz sabia de tudo; o homem de Campos como em todo sertão fala com fé e com razão do que ouviu dizer nos quatro cantos do mundo, mas, no final do dia quando chega a agonia só o mandacaru lhe interessa.
Eles e elas fazem pose nas janelas enquanto o carro passa na rodagem de terra. Somos retratos emoldurados em madeira e vidro. Somos o suspiro de um peito ali ou aqui, ou um grito apavorado num beco escuro; ou um sorriso arregalado que engole o mundo. Mesmo com isto, ou o aquilo que não vejo ou sinto, eu repito o que não entendo, e mato, ou morro pela ideia – Esta danada serpente que morde a vida ou a morte, ou alguma coisa entre as duas.
Eles e elas sem medo ou culpas se amam nas campinas belas. A vida celebra o pó e o vento; o fim do tormento de quem passa por aqui. Eles e elas deslizam no chão, suam as mãos e comem quiuí. Eles e elas se misturam no espaço como a água e o barro. Eles e elas se entregam como soldados rendidos pelo coração. Eles e elas se odeiam, se matam, se cobiçam, e conspiram. Ele e ela sumiram da tela, do cinema, da rua, da calçada, agora, calados, sem nervos apavorados, se beijam, então.
Então, que o rio siga seu leito. Que todos encontrem um amor perfeito, ou que se conformem com a novela da noite. Não há noite sem coito. Na pior das hipóteses, suco com biscoito no sofá da televisão, ou uma cama de papelão na calçada de uma loja de magazine.
A tímida donzela branquinha que nem Cinderela andou sozinha na floresta cheia de lobos famintos. A manceba achava que seu príncipe lá estava. A certeza da moça, do tamanho de sua fé, não teve dó dos calos que ela teve no pé. Por fim, a cândida ragazza caiu na trapaça daqueles que fazem a cena para a foto. O modelo, o quadro, o papel redigido, o texto ditado, a estrutura e seu cadeado, o gesso e o cimento britado todos se transformam em poeira, ou moldura de retrato amarelado, ou simplesmente, cascalho de rua.