Vínculo

Vínculo

É embalde tentar assimilar

o que ainda não se vivenciou

É como tentar imitar

o que fugaz e se dissipou

Muitas informações pululando

Umas para nos dissuadir

Outras ardilosamente intentando

no convencimento induzir

Onde a inexaurível fonte

límpida e fluindo

que a verdade aponte

e não a deixe exaurindo?

13/01/2018

Pensamento atinente ao poema:

Às vezes lemos um livro inteiro e dizemos “É isso”. Acreditamos piamente que tudo o que está escrito transluz a própria verdade, e que tudo se encaixa perfeitamente. Nada fora do lugar. Mas vem alguém e aponta uma incoerência no texto, uma dispersão inconclusa da ideia, e esse apontamento sendo sincero, muito além de uma dissensão de opinião, por qual motivo nos aferramos ao conteúdo geral daquela obra, como se aquela falha fosse apenas um lapso, um erro cometido por descuido, um engano involuntário? Por que somos obrigados a aceitar na íntegra qualquer texto proposto, qualquer linha de pensamento, de raciocínio? Em um mesmo texto pode ter conteúdo proveitoso e conteúdo descabido. Podendo haver inconsistência, infixidez e até leviandade ou precipitação. Às vezes, em certos casos, é bom fazermos uma leitura desapaixonada, desvinculada de expectativas ou promessas elucidativas acerca de dúvidas em particular. Temos inclinação afetuosa por uma ideia, uma concepção ou uma elaboração intelectual. E essa mesma inclinação afetuosa estreitando o propalador ou propaladores dessa ideia, dessa concepção ou elaboração intelectual. Mas, por vezes, esse carinho tem que ficar de lado para o melhor aproveitamento de algumas leituras. Podemos comungar, podemos pertencer a grupos ou sociedades que possuem as mesmas ideias religiosas, políticas, literárias ou científicas, mas não precisamos condescender ou concordar com tudo o que é dito, mencionado ou referido por qualquer membro desses grupos. Não há nada de errado em questionar aquilo que não parece muito claro, difícil de entender, equivocado ou nebuloso. Ter amor a alguma coisa, ideia ou alguém, não significa sermos complacentes com qualquer procedimento equívoco, ou que dá margem à qualquer suspeita. Perceber o erro e indicá-lo também é uma forma de depurar a própria ideia que amamos, que queremos muito bem. Não precisamos “dizer amém a tudo”.

Valdecir de Oliveira Anselmo
Enviado por Valdecir de Oliveira Anselmo em 15/01/2018
Código do texto: T6226713
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