O último mês do calendário

Aquele que rasgamos por último,

Quando o ano se acaba,

Mais um ciclo que se fecha,

Mais uma lótus que dorme pra sempre,

Mais uma esperança que se abre,

Mais um copo que se quebra, cheio d'água, enquanto os fogos (malditos) ardem,

Mais um adeus, e mais um bem vindo ano novo,

Quanto mais, em vida, menos, em vida,

Mais, nos iludimos com o acumular de nosso tempo,

Que não há,

(Não) estamos acumulando nada,

Estamos morrendo, degenerando, vivendo,

Acumulamos areia nas mãos,

Mas o vento...

Mais um ano que vem, mais um ano que se foi,

uma vida que vivemos, e mais uma que perdemos,

Mais uma página que viramos, mais um livro que queimamos,

O ano passou, e outro ano...

Parece que o tempo não passa,

Em essência, nada passou,

O universo não é a essência em si mesma/o,

A primeira e única essência de tudo, é justamente o nada, em que nada passa, que está em um marasmo infinito, em um torpor inconsumível,

O tempo nunca passa,

É o material físico que passa pelo tempo,

É o espaço que vai indo para o espaço,

É o nosso espaço que vai indo, de cansaço,

É o mantra eterno, que sussurra em todo pensamento,

O último mês do calendário,

é aquele que rasgamos por dentro...