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Poucos viram aquele garoto de verdade

Muitos então o achavam muito estranho

Mas era só muito tímido e nada mais

Alguns se aproximaram muito ou pouco

O garoto escondia suas emoções de todos

Tinha vergonha de alguma sorriso maldoso

Mas também queria ser visto e amado

Mas não sabia como deixar isto acontecer

A solidão lhe parecia a única saída

Talvez mesmo uma condenação

Mas ainda tinha que lutar por alguém

Que pudesse lhe enxergar na multidão

Seus olhos eram cegos para si mesmo

E não via a beleza que tinha no espírito

Acreditava que alguém um dia convenceria

De que havia algo nele que valesse a pena

Até que este dia veio e ele mal acreditava

Era como ter permissão para se sentir especial

Um coração novo cheio de esperança lhe foi dado

E poderia enfrentar a vida agora sem medos

No dia que ela lhe deixou sentiu muita dor

Mais do que ele poderia imaginar e sentir

Se tornou então mais um na multidão

Sem lugar ao Sol, sozinho e anônimo

II Anjo escondido num demônio

Poderia os anjos ouvirem suas preces

As lágrimas e lamentos os convenceriam?

Chamaria qualquer coisa que sentisse de poesia?

Ou apagaria tudo aquilo da sua mente?

Deixaria então sua alma de anjo

E viveria como um demônio qualquer?

Então foi o que ele fez e aprendeu ser

Não sem certo custo e sacrifício

Mas as vezes ele suspeitava

Haveria ainda algum anjo escondido

Na alma de algum demônio arredio

Destes que desviam o olhar para o chão

Não há respostas...

III Ainda bem que te encontrei aqui

Me desculpe por te escrever assim, sem versos ou rimas. Me desculpe por não ter chegado antes e ter te deixado com todo este sofrimento sozinho. Saiba que o envelhecimento não me tornou incompreensível ou sarcástico com tudo que sentiu.

Tanto tempo passou, tive que sobreviver, tive que ser mais forte. Guardei minha sensibilidade para os sensíveis. Aprendi a construir pontes, não sou engenheiro, falo entre as pessoas.

É preciso entender como elas são e principalmente como elas sofrem. Te digo mais que quanto menos condenei mais compreendi ou foi o contrário, mais compreendi menos condenei. Não sei qual ordem escolher.

É necessário sair do plano da mente e do papel. Encarar a vida, com as condições e limites que ela apresenta. Não duvide disto, nunca vai amar se não encarar os defeitos da vida e do mundo. Os defeitos que oferecemos aos que nos amam são formas de testar a sinceridade do que nos dizem amar. Mas não abuse disto...

Entendo que o mundo real, o mundo concreto onde as coisas acontecem é duro de encarar e assustador. É difícil dar o primeiro passo, porém pior ainda será adiar o momento de se lançar tal como você é ao mundo.

Eu lhe dei a mecânica e a engenharia necessária para sobreviver e construir as pontes entre os grandes abismos. Mas o coração eu deixo com você. Faça o que tem que ser feito e ame o que precisa ser amado.

E mais uma coisa: não deixe de escrever suas poesias, sua ingenuidade e pureza como escreve me faz recordar coisas boas. Não acho elas nem um pouco bobas.

Wendel Alves Damasceno
Enviado por Wendel Alves Damasceno em 19/11/2017
Código do texto: T6176676
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