Maleato de Fluvoxamina - 50 mg
Poucos viram aquele garoto de verdade
Muitos então o achavam muito estranho
Mas era só muito tímido e nada mais
Alguns se aproximaram muito ou pouco
O garoto escondia suas emoções de todos
Tinha vergonha de alguma sorriso maldoso
Mas também queria ser visto e amado
Mas não sabia como deixar isto acontecer
A solidão lhe parecia a única saída
Talvez mesmo uma condenação
Mas ainda tinha que lutar por alguém
Que pudesse lhe enxergar na multidão
Seus olhos eram cegos para si mesmo
E não via a beleza que tinha no espírito
Acreditava que alguém um dia convenceria
De que havia algo nele que valesse a pena
Até que este dia veio e ele mal acreditava
Era como ter permissão para se sentir especial
Um coração novo cheio de esperança lhe foi dado
E poderia enfrentar a vida agora sem medos
No dia que ela lhe deixou sentiu muita dor
Mais do que ele poderia imaginar e sentir
Se tornou então mais um na multidão
Sem lugar ao Sol, sozinho e anônimo
II Anjo escondido num demônio
Poderia os anjos ouvirem suas preces
As lágrimas e lamentos os convenceriam?
Chamaria qualquer coisa que sentisse de poesia?
Ou apagaria tudo aquilo da sua mente?
Deixaria então sua alma de anjo
E viveria como um demônio qualquer?
Então foi o que ele fez e aprendeu ser
Não sem certo custo e sacrifício
Mas as vezes ele suspeitava
Haveria ainda algum anjo escondido
Na alma de algum demônio arredio
Destes que desviam o olhar para o chão
Não há respostas...
III Ainda bem que te encontrei aqui
Me desculpe por te escrever assim, sem versos ou rimas. Me desculpe por não ter chegado antes e ter te deixado com todo este sofrimento sozinho. Saiba que o envelhecimento não me tornou incompreensível ou sarcástico com tudo que sentiu.
Tanto tempo passou, tive que sobreviver, tive que ser mais forte. Guardei minha sensibilidade para os sensíveis. Aprendi a construir pontes, não sou engenheiro, falo entre as pessoas.
É preciso entender como elas são e principalmente como elas sofrem. Te digo mais que quanto menos condenei mais compreendi ou foi o contrário, mais compreendi menos condenei. Não sei qual ordem escolher.
É necessário sair do plano da mente e do papel. Encarar a vida, com as condições e limites que ela apresenta. Não duvide disto, nunca vai amar se não encarar os defeitos da vida e do mundo. Os defeitos que oferecemos aos que nos amam são formas de testar a sinceridade do que nos dizem amar. Mas não abuse disto...
Entendo que o mundo real, o mundo concreto onde as coisas acontecem é duro de encarar e assustador. É difícil dar o primeiro passo, porém pior ainda será adiar o momento de se lançar tal como você é ao mundo.
Eu lhe dei a mecânica e a engenharia necessária para sobreviver e construir as pontes entre os grandes abismos. Mas o coração eu deixo com você. Faça o que tem que ser feito e ame o que precisa ser amado.
E mais uma coisa: não deixe de escrever suas poesias, sua ingenuidade e pureza como escreve me faz recordar coisas boas. Não acho elas nem um pouco bobas.