A Balsa
Quero assumir os dias
Ao invés de sumir nas horas
Sem revogar o passe livre da vida
Redescobrir minhas memórias
Espalhar tolices pelo mundo
Revirar os escombros
E os entulhos
Achar flores no lixo imundo
E colher a seiva da vida
Onde a maioria enxerga túmulos
Vim das frustrações
Comunicar que não há
Rancor ou dias cinzas
Capaz dos meus sonhos parar
Nem afundar meus barcos
Mesmo quando não sinto mais vontade de remar
O rio ainda flui e segue o curso
E no final eu vou estar
Há amor em mim
Por toda parte
Em todo lugar
Não obstante digo
A solitude é meu novo lar
Acolhe em meu peito vil
Um coração pulsante
De luta
Que saboreia o gosto da fruta
Mas não a colhe madura do pé
Que dá dois passos a frente
E dez para trás de ré
Mas segue
O barco
O rio
O curso da vida
Assisto o sol nascer e se por
Entre sorrisos, lembranças e dor
E me mantenho agradecida
A vida é o que sobra
Entre os copos de cerveja
E as noites mal dormidas