SUPERFICIALIDADE

SUPERFICIALIDADE

Porteiro na parede da minha alma, arrancando todo reboco apodrecido pelos fungos que se instalaram em mim, trasendo as rugas na minha planura. Superfície defeituosa, ação do tempo que a tudo deteriora.

Não me olham mais com olhos da admiração, pois, a minha estética agora é patética; cara de palhaço, rosto de palhaço... ruga de palhaço.

Cravejaram-me com a espátula, limparam com o bisturi, prometendo o milagre da plastica, a fonte da juventude. Disseram-me que a felicidade viria a minha alma de parede, antes desgastada e cansada, agora em reforma.

O Dr. Pedreiro, pintor prometeu mudar minha vida, eu chamaria a ateção de todos os olhos. Disse ele que me pintaria com uma tonalidade forte e que os olhos dos transeuntes seriam meus servos.

Eu acreditei, afinal de contas foi o Dr. que disse. Ele me aplicou uma base acrílica e disse: "jamais fungo algum irá destruir a tua beleza". Cobriu-me com um azulão, que disse que era o "azul profundo". Recebi toda essa cosmética e fiquei bela.

Descobri depois da euforia daquela pintura nova, que eu continuava a mesma parede de sempre. Verdade, que não tinha mais os fungos; mas a minha alma de parede era a mesma. Resmungona, apática, infeliz e sem sonhos.

Pergunto: Tem algum Dr. que opera uma alma que não tem sonhos? Uma alma que confia numa técnica estética para ser feliz?

Há! como quero ser uma parede feliz, apenas por ser parede que serve, que vive sonha, apenas feliz, com ou sem plástica, com ou sem massa, base, produto... natural; sem botica!!

Por: Cirlon Pereira