Multidão

Em meio a multidão eu me vejo, não como sendo mais uma, não como participante, ou coadjuvante, mais sim, como uma sombra ao relento, jogada, meio ao vento, invisível.

Em meio a multidão sou vista, sou chamada, recebida, sendo que facilmente esquecida. Como se eu nunca estivesse ali.

Em meio a multidão me sinto presa, mesmo sem nada a me segurar, me sinto solta, mas com um grande peso a me travar. Não sei se devo ou não continuar.

Em meio a multidão, não sei, se pertenço a isso ou não. Se sou mais uma, ou se nem venho a ser. Não sei, melhor esquecer.

Em meio a multidão não deixo marcas, mas sou marcada. A cada tragédia, uma virada, pena que para só de cabeça pra baixo rua a dentro.

Em meio a multidão sou mais uma, igual ou sem emoção. Muitas vezes sinto, outras não.

Em meio a multidão não tive chance, se disse sim ou disse não, não foi por mim ou emoção, foi pressão livre e espontânea.

Em meio a multidão estou jogada, largada as traças, sou lata, sem direito a reciclagem.

Em meio a multidão sou estrela, apagada.

Em meio a multidão sou mais uma. Cópia perfeita, humana imperfeita, máquina movida a água, quase sempre enferrujada.

Em meio a multidão sou tudo, sendo sempre nada. E assim me parto sempre calada, sem ao menos tentar.

Jane Kely
Enviado por Jane Kely em 28/08/2017
Código do texto: T6097938
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