Adubo ôntico
A língua solta revela a tão buscada verdade.
Que o coração sentia e acuado escondia,
no fundo de suas entranhas.
expondo o lombo ao relho, faz marejar os olhos
e faz cair as escamas.
Viver é um pouco sentir e outro tanto é saudade.
Mas a vida tem outras manhas, em suas razões estranhas.
Guardando no mais secreto, o sonho o desejo e o afeto.
E o coração com as razões que a própria razão desconhece.
Ora entoa canções e ora lamenta em uma prece.
No ventre remexe um ser, lindo e formidável,
Mágico e discreto, cresce no ventre o rebento...
Ninguém pergunta ao feto, se quer viver o suplício
de nascer neste hospício, de lamento...de lamento!
Fico a pensar se é pena de cumprimento cogente.
O germinar de uma vida, o estrear na barriga.
Se o nascituro é apenado, por crime tão hediondo.
Ter que nascer e ser gente, eu fico aqui cismando...
Enfim acho que descubro o que há tempos intriga,
E descortino o porquê da gente nascer chorando.
Mas sei que Deus é sábio e em tudo tem propósito.
Eu e você somos refugo, um pouco mais que sucata.
E o feto uma tentativa no tempo certo abortada.
E este mundo de espera é tão somente um depósito.
Mas há quem enxergue na vida uma razão sufragada.
Ser raiz e gérmen do amanhã, um adubo do porvir.
Mas tem que ter uma causa de a gente existir...
Ser mais que só adubo, mais que uma simples cagada.