REFÚGIO
Pra que sair daqui de dentro
Se lá fora o mundo é menor do que parece?
Pra que sair se logo eu entro
Se nada afora é o que parece?
Lá fora faz muito mais frio
Lá fora o mundo é tão vazio
Aqui, nada é tão bonito
Mas posso ter o infinito
Basta fechar os olhos, viajar…
E viver meu mundo particular.
Dentro de mim há um universo
Que não está contido no abstrato;
Me aqueço fazendo um verso
Entre as quatro paredes do meu quarto.
Me perco e me acho aqui
Vejo o que ainda não vi
Não quero mais o que ficou pra trás;
Posso sorrir, posso chorar
Se aqui, o meu refúgio está
Meus medos não me acompanham mais.
Se eu sair, sou uma farsa
A insegurança se disfarça
E sou um marinheiro em alto mar;
Pego o timão do meu navio
Enfrento o sol, a chuva, o frio
Por tempestades fico à esperar…
E mesmo se escurecer
A bússola vai me guiar
Os meus faróis vou acender
E lá no porto, sei que vou chegar;
Mas tudo isso é ilusão
O meu navio é o coração
E nele eu não posso confiar;
Então prefiro estar aqui
Sei que lá fora, é “logo ali”
Mas outra vez, não quero naufragar.
De pés no chão, ouço a razão
Por isso mesmo, aqui permaneço;
E quem é que vai dizer-me que não?
Posso ser mesmo, tudo o que pareço.