VILAREJO
lá a chuva lambe a aspereza
das paredes nuas
os tijolos estão expostos
a argamassa fodida
é jardim de mofo
o dorso antes quente
do assoalho que,
de quando em vez, assobiava
é garça depenada,
é frio e é úmido
tudo está aos cacos
o chiado das patas,
o verniz das baratas,
os pregos expostos
as pedras, as farpas
caibros quebrados,
terças torcidas,
ripas rasgadas!
desenho vermelho das telhas
atiradas pelo vento
as janelas antigas
estremecidas por gritos
nomes, apelidos
xingamentos, cantadas
piadas ou cânticos
o gemido abafado
dos que fodem em segredo
densa areia que cobre
o novo que nasce
a pá, o pé, o pó