FANTASMA ACADÊMICO

Talvez esteja fugindo

Talvez procure um lugar

Pertencer a alguém, a algo.

É um tempo só meu

Porém, embora vibrando,

Não posso falar apenas ouvir

Sou silenciada por ser quem sou,

Por não ser ou não caber aqui.

Percebo que muitos me ouvem

Mas não levam a sério, fingem não ouvir.

Não tenho raízes aqui,

Como se usurpasse o lugar de outro

E tenho tanto a aprender e dividir...

Mas ninguém me escuta ou me enxerga.

O desejo nem sempre nos leva a algum lugar

Mas eu sonho, não em estar em evidência,

Mas ser vista como alguém capaz de ter seu lugar aqui.

Como é ruim não ter aproveitado o tempo

Conhecer as coisas.

Ler me traz esperança.

Por um tempo vejo isso como um doce, sou criança.

Com tanta gente e aqui tão só, tão isolada.

Não tenho voz...

Sonho em ter meu lugar

Ter minha voz, minha vez,

Mas quem pode ficar com eles?

Ninguém quer...

Ninguém me quis.

Mas eu os quero muito

E por eles não posso desistir

Porque eles terão sua voz, seu lugar.

Irão enxergá-los.

Irei bater palmas.

Tive um momento aqui, eu sei

Mas ninguém pôde ou quis ver

Fiquei tão só, mesmo sendo bom foi ruim...

Mas foi assim com eles também.

Trazidos de lá, acorrentados,

Sem voz, sem presença, sem valor,

Foram silenciados por tanto tempo.

Não queriam, mas lhes foi imposta a escravidão.

Resistiram, lutaram, embora alguns morressem,

Conseguiram avançar e ainda avançam.

Sou sua filha.

Talvez por isso eu tenha que deixar de ser esse fantasma acadêmico,

resistir para ter meu lugar, para que eu mesma possa...

Me enxergar!!!