Escrever!
O livro
quem leu?
quem entendeu?
quem escreveu?
quem escolheu?
[O autor gasta horas na escolha das palavras que expressarão com eficiência suas ideias. Suas ideias são libertas pela leitura do outro que interpreta não a intenção do autor, mas a própria intenção. O leitor fará resenhas escritas ou orais daquilo que entendeu da intenção do autor, mas sem ser a intenção mesma do autor. As ideias do autor vão se perdendo, vão se tornando outras ideias a partir do momento que seus dedos tocam os teclados do notebook. A partir do momento que o autor imprime a primeira letra de seu livro, ele começa a criar outros livros que jamais poderiam ser criados por ele, pois estes só são a partir dele e não dele.]
O livro
não leu!
não entendeu!
não escreveu!
não escolheu!
[No fundo o autor sabe disso. Sabe que quando escreve só escreve para si. Suas letras não são alcançadas pelo outro, pois assim que estas são lidas são transformadas em outras. Quantos “Raskolnikov” existem? Quantos “Otelo” existem? Quantos “Brás Cubas” existem? O autor é um que se multiplica quando decide se expressar artisticamente. A arte é o poder humano de abstração, de reinvenção, de dissimulação. A literatura é o registro ou os registros de certidão ou certidões de nascimento. A diferença entre a literatura e os documentos cartoriais é que a primeira não pode ter cópia autenticada, pois não existe escrita autêntica. Escrever é necessariamente plagiar!]
O livro
leia!
entenda!
escreva!
escolha!